Da frustração da véspera à determinação e garra na etapa de hoje… Longe de se resignar às limitações óbvias do seu Mitsubishi Racing Lancer, Carlos Sousa enfrentou hoje com notável sentido táctico a segunda maior especial do figurino desta 32ª edição. Naquela que era considerada a primeira “verdadeira” prova de resistência deste Dakar, o piloto português limitou os prejuízos na rápida fase inicial do percurso, para atacar forte na parte mais técnica e demolidora. Quando muitos já se rendiam ao cansaço, Carlos Sousa encontrou força para ultrapassar dois dos seus adversários directos e subir, pela primeira vez, ao top-5 da geral absoluta… Ultrapassado que está já o primeiro terço de corrida, Carlos Sousa não só cumpre o objectivo estipulado à partida, como já o supera largamente, entrando pela primeira vez no chamado grupo dos “cinco magníficos”. Um feito tanto mais de assinalar, se recordarmos que à sua frente apenas estão classificados três Volkswagen oficiais e o Hummer do norte-americano Robby Gordon, “apenas” terceiro classificado na última edição. Único dos pilotos estreantes no actual figurino sul-americano do rali a ousar subir ao top-5 da geral absoluta, Carlos Sousa cumpriu hoje, de forma notável, aquela que a Organização considerou a primeira “verdadeira” prova de resistência deste Dakar, num total de quase 500 quilómetros cronometrados e quase 5 horas e meia de condução. Fazendo uma vez mais uso da sua enorme regularidade e experiência, e pese embora ter sido apenas o 16º carro a sair para a estrada, o português voltou a protagonizar um “início de etapa verdadeiramente inglório, sendo outra vez superado por todos em velocidade pura, nomeadamente por alguns dos meus colegas de equipa. Porém, logo que o percurso se tornou mais técnico e o piso mais duro, tudo se inverteu e comecei a recuperar posições e a ultrapassar vários carros em pista. Não há outra alternativa e precisei novamente de arriscar muito para compensar o prejuízo acumulado nos primeiros quilómetros”, resumiu o piloto à chegada a Antofagasta. “A táctica agora só pode ser esta: dar o tudo por tudo quando os outros se retraem ou começam a quebrar fisicamente. Felizmente, sinto-me optimamente sob o ponto de vista físico e o carro está a revelar-se bastante fiável. Só que para as coisas correrem bem também é preciso que nada falhe. Ao contrário de outras etapas, hoje tudo correu bem e pudemos subir duas posições, chegando ao top-5. É certo que falta ainda muito rali pela frente, mas é claro que tudo farei para conseguir manter-me neste grupo da frente. Não podemos, repito, é falhar nada. Não há mesmo outra alternativa”, reforça Carlos Sousa, consciente que “quanto mais duro for o rali, maiores serão as minhas hipóteses de sucesso”.
A dupla portuguesa Miguel Barbosa/Miguel Ramalho sentiram na pele as dificuldades da etapa que ligou Copiapo a Antofagasta no Chile terminando os 483 quilómetros cronometrados na 14ª posição. Resultado que lhes permitiu subir para o 12º lugar da classificação geral, a um passo de entrar no top 10. O balanço do dia acaba por ser extremamente positivo para o piloto português que se aproxima do objectivo que traçou para este Dakar: “A especial de hoje foi muito dura e difícil. Apesar de termos entrado bem no troço desde cedo que começámos a sentir que o mínimo erro poderia custar caro. O percurso estava repleto de valas, zonas muito perigosas que nos obrigavam a não arriscar. Mas por mais que tivéssemos tido cuidados, não foi suficiente”, explicou o piloto português. Ao quilómetro 166 não conseguiram evitar a queda numa vala: “Sem nos apercebermos bem como caímos num buraco com quatro metros. Foi de tal forma aparatoso que pensámos que já não íamos conseguir sair dali. Apanhámos um valente susto. Depois de sairmos de lá tivemos de voltar a parar pouco depois. O Mitsubishi tinha a carroçaria um pouco mal tratada do lado direito e a mala não fechava. Tivemos de solucionar o problema. Tudo isto obrigou-nos a cair na tabela”, disse Barbosa. O figurino da especial de hoje em nada agradou o piloto do Mitsubishi com o número 332 na porta: “Não gostei particularmente e senti-me um pouco desconfortável. Espero que amanhã o dia seja mais interessante”, rematou Barbosa.
Na geral, Mark Miller obteve hoje a sua primeira vitória no Dakar, ao ser o piloto mais rápido da quinta especial, que ligou Copiapo a Antofagasta, num dia em que a Volkswagen dominou e em que Carlos Sainz chegou à liderança da prova. A etapa de hoje teve o condão de reduzir o leque de candidatos ao triunfo, já que os problemas de Stéphane Peterhansel atrasaram-no irremediavelmente na classificação geral.
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